domingo, 20 de fevereiro de 2011

António Pires de Azevedo Loureiro e Manuel Pires de Azevedo Loureiro


Há em Balasar um importante documento intitulado Carta de Sentença Cível de Património da Capela da Santa Cruz de Jesus Cristo colocada na freguesia de Santa Eulália de Balasar. Data de 1834, o ano da vitória liberal contra D. Miguel e da extinção das Ordens Religiosas;  o P.e Leopoldino Mateus estudou-o no Boletim Cultural Póvoa de Varzim. O documento tem no final a assinatura de António Pires de Azevedo Loureiro. Ora este nome é muito parecido com o dum seu contemporâneo e de muito triste memória na Arquidiocese de Braga, que foi o vigário capitular e se chamava Manuel Pires de Azevedo Loureiro. Que relação existirá entre os dois?
Provavelmente eram irmãos; certo é que eram naturais da freguesia de Moreira, no concelho viseense de Nelas. O Manuel veio a ser bispo de Beja.
Os historiadores da Igreja são muito duros, e com razão, para Manuel Loureiro. Vejam-se sobre ele alguns parágrafos de Fortunato de Almeida na História da Igreja em Portugal, vol. III:

Por carta régia de 2 de Abril de 1834 foi insinuado ao cabido [bracarense] que elegesse vigário capitular o Dr. Manuel Pires de Azevedo Loureiro [na altura nomeado pelo governo administrador temporal da diocese], prior da freguesia de Santo André de Lisboa, o qual efectivamente foi eleito no dia 15, apesar das observações feitas por alguns cónegos sobre a ilegitimidade de tal acto.

Em Braga não havia arcebispo desde 1827, por isso o cabido, órgão colegial constituído pelos cónegos da Sé, devia providenciar para que a diocese tivesse um responsável - um vigário capitular. Continuemos a citação:

Loureiro ia precedido da fama, talvez adrede improvisada, de homem recto e probo; “mas ele – diz um contemporâneo – encobria, com a capa de bondade, as mais desordenadas e destruidoras bases da sã moral, como pouco tempo depois se fizera patente”. […]
O governo de Loureiro de Azevedo em Braga foi uma série de prepotências e atropelos, em que nem ao menos se procurava salvar as aparências. No dia imediato àquele em que pela primeira vez entrou no paço arquiepiscopal, e antes de reunir o cabido para lhe conferir, embora contra direito, a jurisdição canónica, Loureiro chamou o secretário da câmara eclesiástica, Padre Custódio José de Araújo, a quem pediu todos os requerimentos que estivessem aguardando despacho. Poucas horas depois estavam expedidos todos os negócios pendentes. Suspendeu todos os clérigos que se tinham alistado no batalhão eclesiástico, e em seguida muitos outros por os considerar desafectos ao partido constitucional. Concedeu dispensas matrimoniais, sujeitas a multas a seu arbítrio impostas, e cujo produto se destinava a obras de beneficência, tudo em conformidade com os decretos de 1834. Em execução do decreto de 9 de Agosto de 1833, extinguiu os conventos de S. Frutuoso e Tibães.

Manuel Loureiro é um intruso – pois havia um vigário capitular legítimo – que se comporta como fiel e activo agente dum governo hostil à Igreja.
Em 23 de Dezembro de 1835, coloca António Loureiro como seu substituto (vigário capitular). Mas é um ano antes (19 de Dezembro de 1834) que se conclui a Carta de Sentença Cível de Património da Capela da Santa Cruz de Jesus Cristo colocada na freguesia de Santa Eulália de Balasar.
Na citação de Fortunato de Almeida falava-se do Batalhão Eclesiástico. Tratou-se dum batalhão composto de eclesiásticos, organizado por ordem do vVigário capitular D. António da Cunha Reis, para manter a ordem em Braga, porque a força militar miguelista de Braga, à chegada das forças liberais, havia retirado para os acampamentos. Era comandante o Provisor do arcebispado e Arcediago de Barroso na Sé Primaz o Dr. José Firmino da Cunha Reis (Mons. José Augusto Ferreira).
De acordo com o P.e Silos, o pároco de Balasar, Manuel José Gonçalves da Silva, foi provido em 1833 e expulso em 1834. Como ele era muito jovem e foi Mestre de Moral em Braga, não é impossível que tenha sido também membro do Batalhão Eclesiástico. Mas pelo menos, quase de certeza, foi vítima dos saneamentos do vigário Manuel Loureiro. A data do último e único assento que aquele pároco escreveu nos livros de Balasar é contemporânea de tais saneamentos (30 de Abril de 1834). De facto o Mons. José Augusto Ferreira, ao referir os desmandos do vigário Manuel Loureiro já assinalados por Fortunato de Almeida, nas suas Memórias para a História dum Cisma e nos Fastos Episcopais da Sé Primacial de Braga, menciona explicitamente “a demissão de muitos párocos e cónegos bem como a suspensão de outros”.
Estamos no ano terrível da revolução e a ver efeitos que ela teve por cá.
Imagens a contar de cima:
  • Manuel Loureiro como bispo de Beja.
  • Assinatura de António Loureiro.
  • Retrato de Mons. J. A. Ferreira.

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