O pároco de Touguinhó tinha grandes rendimentos e por isso a paróquia era cobiçada, como se deduz do célebre dito: "Em Touguinha estou, Tougues vejo, Touguinhó desejo". O abade Custódio José de Araújo Pereira, que fora afoito miguelista, temendo a perseguição, em 1834, ausentou-se para a sua terra natal. Na versão dum ex-voto conservado no Museu Municipal da Póvoa de Varzim e feito em honra da Santa Cruz de Balasar, as coisas foram menos pacíficas: em 1834, ele foi preso e puseram-no fora da sua abadia.
Em 1838, obteve autorização do Governo Civil para regressar a Touguinhó, mas o lugar estava ocupado pelo P.e Domingos da Soledade Silos – que tinha certa apetência por paróquias rendosas (em 1839 foi para a de Vila do Conde).
O P.e Custódio José só voltou à sua abadia em 1841. Do seu antecessor e parente, herdara uma muito grande fortuna e, "apesar de ter desbaratado muito dinheiro na causa miguelista, ainda assim continuou rico bastante, como pároco de Touguinhó, para mandar fazer uma igreja nova, como prometeu (…) em 9 de Dezembro de 1930" (Silva Rodrigues).
De acordo com o inquérito de 1825, transcrito pelo P.e Franquelim N. Soares, Custódio José residia em Touguinhó desde há 23 anos e era "de bom porte e distintos costumes".
Vinte anos mais tarde, o P.e Silos, no inquérito paroquial, depois de ter dito que o abade Custódio José tinha residido sempre em Touguinhó, "à excepção de seis anos, que esteve fora do benefício por ter dado donativos a D. Miguel, do qual foi sectário acérrimo", declara que a "sua conduta é boa, porque a sua idade e educação não o deixa ser mau".
Vindo de quem vem, isto é um notável elogio. Mas esqueceu-se de dizer que fora este abade que pagara a nova igreja paroquial e provavelmente também a grandiosa residência. Se é que não custeara antes a Ponte d’Este… pois quem a pagaria naquele ano de guerra civil que foi 1834?
(A inscrição que se lê na ponte e que a dá como obra do Estado não é de fiar. Que Estado? O que D. Miguel liderava ou o que liderava o seu irmão D. Pedro? E a guerra absorvia-lhes todo o dinheiro, que era pouco).
(A inscrição que se lê na ponte e que a dá como obra do Estado não é de fiar. Que Estado? O que D. Miguel liderava ou o que liderava o seu irmão D. Pedro? E a guerra absorvia-lhes todo o dinheiro, que era pouco).
Segundo o P.e Franquelim N. Soares, o testamento deste abade, feito em 21 de Outubro de 1852, é "impressionante pela enorme riqueza e caridade cristã e reflecte bem a espiritualidade do seu tempo".
Imagens de cima para baixo:
- Ex-voto de Bernardina Rosa à Santa Cruz de Balasar, que retrata o abade de Touguinhó.
- Retábulo neoclássico da capela-mor da Igreja Paroquial de Touguinhó, que há-de espelhar a dedicação do abade Custódio José pela sua paróquia. O orago é S. Salvador… A tela da transfiguração parece-nos obra de pintor qualificado e talvez já romântico.
- Fachada principal da mesma igreja, que o abade Custódio José construiu a expensas suas; data de 1842.
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